Eu não sou sua inspiração, muito obrigada.
Essa
é uma palestra da Stella Young onde ela fala um pouco sobre o que é
ser uma pessoa com deficiência,
“
Para muitos de nós,
as pessoas com deficiência não são nossos professores, ou nossos
médicos, ou manicures.
Nós
não somos pessoas reais.
Nós
estamos lá para inspirar.”
Vemos
na mídia as pessoas com deficiência retratadas como coitadinhas,
vítima sofredoras…. ou como grandes esportistas que superam suas
limitações dando exemplo de força, de determinação e coragem.
“
Quando
as pessoas dizem:
“
Você
é uma inspiração” elas o fazem como um elogio.
É por causa da mentira,
é porque venderam-nos essa mentira, de que a deficiência torna você
excepcional.”
As
pessoas com deficiência não podem ser vistas como heróis ou
exemplos, por apenas estarem vivendo da melhor forma possível
dentro da sua realidade.
”Apenas
usam toda a capacidade do seu corpo pra realizar as tarefas da forma
que for possível.”
“
Eu realmente acredito
que essa mentira que nos venderam a respeito da deficiência é
uma grande injustiça.
Ela
torna a vida difícil para a gente.”
“
A deficiência não
torna você excepcional, mas questionar-se sobre o que você acha que
sabe sobre isso o faz.”
Eu cresci em uma
pequena cidade do interior em Vitória, Austrália.
Eu
tive um tipo de educação muito normal e discreto.
Eu ia à escola, saía
com meus amigos, brigava com minhas irmãs mais novas.
E quando eu tinha 15
anos, um membro da minha comunidade aproximou-se dos meus pais e
quis me nomear para um prêmio comunitário de realizações.
E meus pais disseram,
“Hum, isso é muito legal, mas parece que há um problema evidente
aqui.
Não
há nada que ela tenha de fato realizado.” (Risos)
E
eles estavam certos, sabe.
Eu fui à escola,
tirei boas notas, após a escola, eu consegui um trabalho modesto no
salão de beleza da minha mãe, e eu passava a maior parte do tempo
assistindo a “Buffy, a Caça Vampiros” e a “Dawson’s Creek”.
Que
contradição.
Mas
eles estavam certos, sabe.
Eu não estava mesmo
fazendo nada que fosse fora do comum.
Eu não estava
fazendo nada que pudesse ser considerado uma realização, se você
deixar a deficiência fora da equação.
Anos mais tarde, eu
estava no meu segundo ano de ensino em uma escola em Melbourne, e,
após 20 minutos de aula para uma turma do 11º ano de Direito,
quando um rapaz levantou a mão e disse:
“Ei,
senhorita, quando você vai começar a fazer o seu discurso?”
“Que
discurso?”
Sabe, eu estava
falando com eles sobre a lei de difamação, por uns bons 20
minutos.
“Você
sabe, tipo,seu discurso motivacional.
Sabe, quando as
pessoas em cadeiras de rodas vão para a escola, eles costumam dizer,
tipo, aquelas coisas inspiradoras?”.(Risos)
“Geralmente
fica no salão maior.”
E foi aí que me dei
conta: esse garoto só tinha visto as pessoas com deficiência como
objetos de inspiração.
Para esse garoto, nós
não somos, e a culpa não é dele, quer dizer, isso é verdade para
muitos de nós.
Para muitos de nós,
as pessoas com deficiência não são nossos professores, ou nossos
médicos, ou manicures.
Nós
não somos pessoas reais.
Nós
estamos lá para inspirar.
E de fato, eu estou
sentada neste palco, da forma como vocês estão vendo, nessa cadeira
de rodas, e, provavelmente, vocês meio que estão esperando que eu
inspire vocês.
Certo?
Bem, senhoras e
senhores, sinto muito, mas vou desapontá-los dramaticamente.
Eu
não estou aqui para inspirá-los.
Estou aqui para
dizer-lhes que temos sido enganados a respeito da deficiência.
É, venderam-nos a
mentira de que deficiência é uma Coisa Ruim, com C maiúsculo e R
maiúsculo.
Que é uma coisa
ruim, e que viver com uma deficiência torna você excepcional.]
Isso
não é uma coisa ruim, e não torna você excepcional.
E nos últimos anos,
nós fomos capazes de propagar essa mentira ainda mais através das
mídias sociais.
Vocês
já devem ter visto imagens como esta:
“A
única deficiência na vida, é ter uma atitude ruim.”
“Sua
desculpa é inválida”.
De
fato é.
“Antes
de desistir, tente!”
Estes são apenas
alguns exemplos, mas há um monte dessas imagens por aí.
Sabem, vocês devem
ter visto aquela, de uma garotinha sem as mãos, que desenha
segurando um lápis com a boca.
Vocês devem ter
visto a de um menino correndo com pernas protéticas de fibra de
carbono.
E essas imagens, há
um monte delas por aí, e são o que chamamos de “pornô
inspirador”.
E eu uso o termo
“pornô” deliberadamente, porque eles objetificam um grupo de
pessoas em benefício de outro grupo de pessoas.
Neste caso, estamos
objetificando as pessoas com deficiência em benefício das pessoas
sem deficiência.
O propósito dessas
imagens é inspirar você, motivar você,para então podermos olhar
para ela se pensar:
“Bem,
por pior que seja a minha vida, poderia ser pior.
Eu
poderia ser aquela pessoa.”
Mas
e se você for aquela pessoa?
Eu já perdi a conta
do número de vezes em que fui abordada por estranhos querendo me
dizer que eles me acham corajosa ou inspiradora, e isso foi muito
antes que meu trabalho tivesse qualquer tipo de visibilidade pública.
Eles só estavam meio
que me parabenizando por eu conseguir levantar de manhã e lembrar
meu próprio nome.
(Risos)
Essas imagens,
aquelas imagem sobjetificam as pessoas deficientes em benefício das
pessoas não deficientes.
Elas estão lá para
que você possa olhar para elas e pensar que as coisas não são tão
ruins para você, para colocar suas preocupações em perspectiva.
E a vida de uma
pessoa deficiente é realmente um tanto difícil.
Nós
temos que superar algumas coisas.
Mas as coisas que nós
superamos não são as coisas que vocês pensam.
Não
são coisas que fazemos com o corpo.
Uso o termo “pessoas
com deficiência” de propósito, porque eu concordo com o chamado
modelo social da deficiência, que nos diz que estamos mais
desabilitados pela sociedade em que vivemos do que pelos nossos
corpos e nossos diagnósticos.
Então,
eu já vivo neste corpo há muito tempo.
Eu
sou muito apaixonada por ele.
Ele faz o que eu
preciso que ele faça, e eu aprendi a usá-lo no máximo de sua
capacidade, bem como vocês, e o mesmo vale para aquelas crianças
daquelas fotos.
Elas
não estão fazendo nada de extraordinário.
Elas só estão
usando seus corpos no melhor de sua capacidade.
Então, é mesmo
justo objetificá-las da forma como fazemos, compartilhando essas
imagens?
“Você
é uma inspiração” elas o fazem como um elogio.
É
por causa da mentira, é porque venderam-nos essa mentira, de que a
deficiência torna você excepcional.
E,
honestamente, ela não faz.
E
eu sei o que vocês estão pensando.
Sabem, eu estou aqui,
evitando ser uma inspiração, e vocês estão pensando:
“Nossa,
Stella, você não fica inspirada com algumas coisas às vezes?”
E
a verdade é que eu fico.
Eu
aprendo com outros deficientes, o tempo todo.
Mas
eu não estou aprendendo que eu sou mais sortuda do que eles.
Eu estou aprendendo
que é uma ideia genial usar pinças de churrasco para pegar coisas
que você deixou cair.
(Risos)
Eu estou aprendo
aquele truque legal, com que você pode carregar a bateria do
celular, na sua cadeira de rodas.
Nós estamos
aprendendo com a força e a resistência uns dos outros, e não
contra nossos corpos e nossos diagnósticos, mas contra um mundo que
nos torna objetos excepcionais.
Eu realmente acredito
que essa mentira que nos venderam a respeito da deficiência é uma
grande injustiça.
Ela
torna a vida difícil para a gente.
“A única
deficiência na vida é uma atitude ruim”, a razão de isso ser uma
besteira é que não é verdade, por causa do modelo social da
deficiência.
Ficar rindo para um
lance de escadas nunca fez com que ele virasse uma rampa.
(Risos)
(Aplausos)
Sorrir para uma tela
de televisão não vai fazer as legendas aparecerem para as pessoas
que são surdas.
Ficar em pé durante
horas, no meio de uma livraria, irradiando uma atitude positiva, não
vai transformar todos aqueles livros em braile.
Isso
não vai acontecer.
Eu realmente quero
viver num mundo em que a deficiência não seja a exceção, mas o
normal.
Eu quero viver num
mundo em que uma garota de 15 anos, sentada em seu quarto, assistindo
a “Buffy, a Caça Vampiros”, não seja nomeada para ganhar alguma
coisa só porque ela está fazendo isso sentada.
Eu quero viver num
mundo em que não tenhamos expectativas tão baixas para com as
pessoas deficientes, em que sejamos parabenizados por sair da cama de
manhã e por lembrar nosso próprio nome.
Eu quero viver num
mundo em que valorizamos verdadeiras conquistas das pessoas
deficientes, e eu quero viver num mundo em que um garoto do 11º ano
numa escola de Melbourne não fique nem um pouco surpreso que seu
novo professor seja um cadeirante.
A deficiência não
torna você excepcional, mas questionar-se sobre o que você acha que
sabe sobre isso o faz.
Fonte
– Deficiente Sim, Superar Sempre
Muitas vezes um cadeirante quando se encontra diante de uma plateia todos pensam lá vem um discurso motivacional; onde decepciona quando ali esta para ministrar uma aula ou expor uma tese sobre um tema especifico; como no caso que ocorre na palestra da postagem acima; o que as pessoas precisam é a deixar de ver como um coitado o incapaz mentalmente sem preconceito, porque estes são inteligentes e muito capacitados para contribuir com o progresso do planeta e da sociedade onde vive; a prova disto são inúmeros exemplos que temos em várias áreas.
ResponderExcluirInteressante a matéria desta reportagem; porque é um inspiração... se uma pessoa deficiente já nasceu assim; porque uma coisa é você nascer deficiente e outra é você se tornar um deficiente por doença acidente ou outra situação; é preciso se tornar um para dar um sentido na sua vida, é o que se entende quando se diz a um deficiente que ele é uma inspiração....
ResponderExcluirPense e reflita sobre o assunto.