Lesão Medular
Prognóstico
A
incapacidade, na lesão medular, varia de acordo com o grau da lesão,
do segmento medular e das vias nervosas e neurônios da medula
envolvidos. A maioria dos pacientes apresenta melhora que se inicia a
partir da primeira semana e vai até o 6º mês do trauma.
A
possibilidade de melhora espontânea diminui após o 6º mês.
Estratégias de reabilitação instituídas precocemente podem
minimizar a incapacidade a longo prazo.
As
orientações da terapia funcional são fundamentais para evitar ou
minimizar deformidades articulares, osteopenia (diminuição da trama
óssea) com fraturas secundárias e trombose venosa profunda.
A
fisioterapia respiratória facilita a eliminação de secreções e
reduz a incidência de infecções e outras complicações
pulmonares.
Os
cuidados com a pele evitam o desenvolvimento de úlceras por pressão.
Cuidados
adequados com as vias urinárias (uma das principais causas de óbito
em pacientes com lesão medular no passado) e com o intestino evitam
complicações graves.
Todas
estas medidas podem reduzir a morbidade e a mortalidade além de
melhorar a qualidade de vida do paciente.
PROBLEMAS
ASSOCIADOS
Úlceras
por Pressão
Uma
das complicações comuns e debilitantes encontradas em pacientes com
lesão medular são as úlceras por pressão, que podem ser
responsáveis por hospitalizações e longos períodos de
imobilidade.
Circulação
adequada de sangue no corpo é fundamental para manter viva a pele.
Quando a circulação é interrompida por tempo prolongado, as
células morrem e surgem úlceras.
Elas
surgem, geralmente, nas áreas onde os ossos são pouco protegidos
por músculos (Figura 1).
As
causas mais comuns são a pressão do colchão, de um assento de
cadeira ou de alguma superfície dura em contato com a pele.
Ficar
muito tempo sobre uma cama ou cadeira em uma mesma posição leva a
um aumento de pressão sobre a pele.
Ao
mesmo tempo, o peso do corpo empurra os ossos contra os vasos
sanguíneos.
Com
esta pressão de fora para dentro e de dentro para fora, a circulação
sanguínea pode ficar prejudicada em uma determinada região e surge
a úlcera por pressão.
Se
as úlceras não forem bem cuidadas, elas vão ficando cada vez
maiores e mais profundas, comprometendo os músculos e podendo chegar
até os ossos.
Frequentemente,
as úlceras infeccionam e, se a infecção chegar até os ossos, a
cura é extremamente difícil. Uma das principais causas de morte em
pessoas com lesão medular são as úlceras por pressão.
O
aparecimento das úlceras pode ser evitado através de cuidados
simples com a pele e o corpo. A pele deve ser sempre observada,
principalmente as áreas que recebem maior pressão.
As
úlceras geralmente se iniciam como pequenas áreas avermelhadas que
podem ficar arroxeadas em pouco tempo até se transformarem em uma
pequena ‘ferida’.
Aliviar
a pressão sobre a pele quando na cama ou cadeira de rodas
periodicamente (Figura 2), fazer uso de alimentação saudável,
ingerir dois a três litros de líquidos por dia, manter a pele limpa
e seca e usar roupas leves e confortáveis são medidas que auxiliam
a prevenção das úlceras por pressão.
Disfunção
Urinária
A
maioria das pessoas com lesão medular não possui controle urinário
normal. O sistema urinário é responsável pela produção,
armazenamento e eliminação da urina e é formado pelos rins, ureteres, bexiga e uretra (Figura 3).
A
urina é produzida pelos rins. Depois que os rins produzem a urina,
esta passa pelos ureteres e é armazenada na bexiga. A bexiga é como
um ‘saco muscular’. Quando ela enche, os músculos da bexiga se
contraem e a urina é eliminada através da uretra. No momento em que
os músculos da bexiga se contraem o esfíncter da uretra, que também
é um músculo, se relaxa para facilitar a saída da urina.
Normalmente
ocorre um funcionamento sinérgico entre a bexiga e a uretra, ou
seja, durante o enchimento, a musculatura da bexiga está relaxada
para acomodar a urina proveniente dos rins, enquanto o músculo do
esfíncter da uretra está contraído para evitar a saída da urina
coletada na bexiga.
Ao
contrário, quando a bexiga se contrai para eliminar o seu conteúdo,
o esfíncter relaxa para permitir a eliminação da urina. Para isso
acontecer normalmente, é preciso haver coordenação entre os
músculos da bexiga e do esfíncter da uretra.
Quando
este trabalho não ocorre de maneira integrada, acontece o que se
chama dissinergismo vésico-esfincteriano, situação que contribui
para a ocorrência de complicações. Se a bexiga e o esfíncter se
contraírem ao mesmo tempo, haverá um esforço maior da musculatura
da bexiga para conseguir vencer a resistência do músculo da uretra.
Este
esforço leva, com o tempo, a um enfraquecimento da parede da bexiga
e a formação de divertículos que acumulam urina residual,
diminuindo a resistência a infecções, favorecendo a formação de
cálculos e o refluxo de urina da bexiga para os rins, colocando em
risco a função renal.
O
cérebro e a medula espinhal são responsáveis pelo trabalho
coordenado entre a bexiga e o esfíncter uretral garantindo o
controle urinário. Uma lesão medular pode comprometer a comunicação
entre o cérebro e o sistema urinário e a eliminação da urina
armazenada na bexiga deixa de ser automática.
Se
a lesão for incompleta, é possível haver recuperação parcial ou
até total com o tempo. Mas até que esta recuperação aconteça, a
utilização de alguma técnica para esvaziar a bexiga pode ser
necessária.
Dependendo
do nível da lesão medular, a bexiga pode passar a ter dois tipos de
comportamento:
a)
Passa a acumular uma quantidade menor de urina do que antes da lesão
medular e os músculos da bexiga passam a ter contrações
involuntárias com perdas freqüentes de urina – bexiga espástica,
comum nas lesões medulares acima do nível sacral (acima de T12).
b)
Passa a acumular uma quantidade maior de urina do que antes da lesão
medular porque os músculos da bexiga não se contraem mais e isto
faz com que grande quantidade de urina fique retida dentro da bexiga,
muito acima da capacidade normal – bexiga flácida, comum nas
lesões medulares ao nível sacral (abaixo de T12).
O
diagnóstico do tipo de bexiga é importante para a definição do
tipo de tratamento que, de qualquer maneira, tem como principais
objetivos: manter a bexiga com baixa quantidade de urina e com baixa
pressão em seu interior, evitando o refluxo de urina da bexiga para
os rins, prevenir infecções urinárias, promover a continência e
preservar a função dos rins.
O
método mais utilizado para esvaziamento da bexiga é o cateterismo
intermitente. A técnica é simples e pode ser aprendida facilmente.
O cateterismo intermitente é um procedimento no qual é introduzido
um catéter (tubo) limpo através da uretra, para esvaziar a bexiga,
a cada três ou quatro horas durante o dia, procurando manter a
pressão dentro da bexiga em níveis normais e evitando as perdas
urinárias.
Se,
mesmo com o cateterismo realizado adequadamente, continua havendo
perdas, existem medicações que interferem na contração ou no
relaxamento da bexiga ou da uretra que, associadas ao cateterismo,
vão permitir melhores condições de armazenamento e esvaziamento.
Disfunção
Intestinal
A
lesão medular determina, também, alterações do controle
intestinal. Nas lesões de nível mais alto, o distúrbio está
principalmente relacionado com inatividade da parede intestinal
(tendência a constipação crônica) e nas lesões mais baixas com
incontinência (tendência a eliminação acidental de fezes).
Embora
na maioria das lesões medulares não seja possível a recuperação
do controle intestinal, um programa de reeducação pode fazer com
que o intestino funcione sempre em um mesmo horário, tornando mais
fáceis as atividades fora de casa.
As
regras básicas para a reeducação intestinal são: dieta rica em
fibras vegetais, ingestão adequada de líquidos (2 a 2,5 litros por
dia), realizar exercícios diariamente, ter um horário programado
para estimular o funcionamento do intestino, fazer massagem abdominal
no sentido horário no momento do esvaziamento, e, quando necessário,
usar laxante, o mais natural possível.
Se
as orientações apresentadas não forem efetivas, a utilização de
recursos tais como estimulação digital com luvas, supositórios e
enemas serão necessários. Todos estes procedimentos devem ser
orientados pelo médico.
Disreflexia
Autonômica
Disreflexia
autonômica é uma complicação frequente nas lesões cervicais e
pode ocorrer também nas lesões medulares acima de T6. Qualquer
estímulo que, normalmente, causaria dor e desconforto na pessoa sem
lesão, na pessoa que não sente por causa de uma lesão medular pode
causar uma crise de disreflexia. As causas mais comuns são bexiga ou
intestinos cheios e distendidos.
Os
sintomas mais freqüentes de disreflexia autonômica são: dor de
cabeça, enxergar pontos brilhantes, visão borrada, arrepios acima
do nível da lesão, sudorese acima do nível da lesão, manchas
vermelhas na pele acima do nível da lesão, obstrução nasal e
freqüência cardíaca baixa. Pressão arterial elevada e
descontrolada é a conseqüência mais perigosa. A disreflexia á uma
emergência médica e requer atendimento médico.
Trombose
Quando
o corpo não é movimentado regularmente, existe a possibilidade de
ocorrer o aparecimento de um coágulo de sangue chamado trombo.
O
trombo formado na perna pode se desprender e viajar para outras
partes do corpo. Se isto ocorrer, ele passa a ser chamado de êmbolo
e um dos lugares mais comuns para um êmbolo se hospedar é o pulmão
(embolia pulmonar).
Os
sinais mais frequentes de trombose são: panturrilha ou coxa de uma
das pernas mais quente e mais edemaciada (inchada) do que a outra.
Na
presença destas alterações, avaliação médica e tratamento
adequado se fazem necessários.
Embolia
Pulmonar
Os
principais sintomas de embolia pulmonar são: diminuição repentina
da respiração, dor no peito ou nas costas e tosse de aparecimento
súbito. Havendo suspeita de embolia pulmonar, deve-se procurar o
pronto socorro imediatamente.
Siringomielia
Alguns
pacientes com lesão medular, meses a vários anos após a lesão
passam a apresentar dor, ascensão do nível sensitivo ou motor (como
por exemplo um paciente paraplégico que passa a apresentar
dormência, atrofia e fraqueza em uma das mãos), acentuação da
espasticidade (tônus muscular aumentado), mudança do padrão
urinário (de urgência, passa a apresentar retenção), alteração
da sudorese, ou, até mesmo, queixas como disfagia (dificuldade de
deglutição).
Em
muitos deles, os exames de imagem mostram a formação de cavidades
intramedulares, que se estendem por vários níveis, acima e abaixo
da lesão traumática, e que recebem o nome de siringomielia
pós-traumática.
Considerada
rara no passado, a partir do advento da ressonância magnética, a
prevalência de siringomielia em pacientes com lesão medular tem
sido estimada em torno de 8 por cento. O tratamento pode demandar
procedimento cirúrgico.
Distúrbios
do Humor
Distúrbios
do humor, particularmente depressão, são frequentes em pacientes
com lesão medular.
A integração precoce em programas de
reabilitação e socialização incluindo atividades esportivas
diminui a prevalência de depressão e ansiedade.
Fonte:
Rede Sarah Kubitschek
Esta matéria nos mostra o que ocorre com uma pessoa que por motivo de doença, acidentes e outros casos vem a sofrer modificações orgânicas, além de orientações médicas dos sintomas e de como procurar ajuda médica, nos casos de tetraplegia ou paraplegia; também faz com que o paciente tenha consciência de como age seu organismo, sabendo a quem recorrer para ser tratado e acompanhado clinicamente.
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